segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Segurança e Gestão de Crises: Benfica-Sporting


O adiamento do jogo entre o Benfica e o Sporting, que iria decorrer ontem pelas 18h00 no estádio da Luz, em função da queda de partes da uma cobertura das bancadas do estádio, conduz-nos a várias questões e a várias possibilidades de análise em termos de organização de eventos.
A primeira questão passa pela segurança. Segurança de todos os intervenientes no evento, ou seja, público, jogadores, imprensa, staff do estádio, forças de segurança e médicas.
Todas as pessoas dentro do Estádio e também fora dele, estiveram por um período significativo de tempo, até se proceder à evacuação do mesmo, sujeitas a consequências mais graves, do que às que felizmente acabaram por suceder, que não foram mais do que terem de deixar o espaço do evento sem assistirem ao jogo.
Aparentemente, todas as partes e nomeadamente as que têm responsabilidades nesta matéria, ou seja o próprio clube, promotor do evento, foram apanhadas de surpresa com os efeitos dos ventos numa determinada zona da cobertura do estádio. Quando digo surpresa, digo porque havia de facto a nível nacional uma previsão de alerta vermelho para o estado do tempo, com uma incidência de pioria significativa para exatamente a hora de início do jogo.
Nesta vertente, pode-se ler hoje em alguns jornais que a proteção civil, teria inclusive sugerido o adiamento do jogo, o que não aconteceu em função desse mesmo pedido.
A surpresa, advém por isso das consequências que acabaram por se registar, sendo que talvez isso signifique que não haveria uma avaliação correta do estado material e das condições da zona da estrutura, que acabou por se ir deteriorando com o passar dos minutos e que culminou com a perigosa queda de chapas de zinco para as bancadas, felizmente já vazias.
Uma vez que, que por motivos semelhantes e na mesma zona, de onde surgiram agora os problemas, já tinha havido o cancelamento de um jogo há cerca de um ano, tem inevitavelmente de se colocar a questão de que tipo de prevenção, de avaliação prévia foi feita esta semana à zona da cobertura em causa, uma vez que o anúncio de mau tempo para o dia e hora do jogo, era já do conhecimento público há vários dias.
E se não houvesse conhecimento público, perante o estado do clima e perante um jogo desta natureza em que estariam 60.000 pessoas no estádio, será que não existiram cuidados redobrados sobre as condições materiais de certas zonas do estádio?
A questão que importa aqui relevar é que a organização de eventos outdoor, mesmo em estruturas fixas como estádios de futebol, deve ser acompanhada de forma muito atenta pela avaliação das condições meteorológicas, ainda mais quando os indícios e as notícias já vão apontando para situações mais agrestes, como era o caso de ontem e quando problemas semelhantes já tinham igualmente ocorrido.
Ainda no campo da segurança, tem de se colocar outra questão. Como aconteceu todo o processo de evacuação do estádio, como foram os adeptos sendo informados sobre o que se estava a passar, quanto tempo passou entre a perceção do problema e a perceção de que haveria um perigo de tragédia como foi referido ontem por certos responsáveis e como tudo se passou.
Aparentemente, entre o início do registo de que havia um problema, aparentemente menor até esse momento, não houve qualquer tipo de comunicação dentro do estádio, com algum tipo de informação sobre as causas que estariam a levar ao atraso do jogo.
Segundo relatos de adeptos, apenas ao fim de 40 minutos de começarem a cair no relvado os primeiros bocados de material da cobertura, é que os adeptos foram oficialmente informados do adiamento do jogo e convidados a saírem do estádio, com um pedido de desculpas pelo ocorrido.
Naturalmente, que nesta fase houve necessidade de ponderar muitos factos, nomeadamente o de estar dentro do estádio cerca de 60.000 pessoas e como caso fosse necessário se poderia proceder à sua evacuação sem confusão e até reações de massas que são sempre perigosas.
Talvez por aí se entenda o período de quase 40 minutos sem qualquer comunicação pelo sistema sonoro do estádio aos adeptos, apelando ou à calma, ou à paciência enquanto se procedia à resolução de um problema, que de certa forma era visível para todos.
A questão que coloco é que nos dias de hoje, a informação num evento destes, não funciona em circuito fechado, não funciona de forma estanque e as redes de telemóveis, as redes sociais, são canais de comunicação ao segundo e não tendo acontecido felizmente nenhuma reação descontrolada dos adeptos, a verdade é que através das televisões já era possível saber que havia problemas maiores na estrutura me causa, enquanto dentro do estádio, apenas se sabia o que se via e a informação recebida era que vinha de fora do estádio, eventualmente até com erros e por isso mesmo potencialmente mais perigosa e potencialmente provocadora de uma reação desorganizada e em massa dos adeptos, em contraste com um acalmar de ânimos e de ânsias, que poderia ter surgido pontualmente através do sistema sonoro do estádio.
A questão que eu coloco, é qual foi a forma mais acertada de agir neste caso? E se durante os 40 minutos ou 50 apenas caíram bocados da lã de rocha, tivesse de repente caído uma ou mais chapas de zinco em cima dos adeptos desprevenidos e qual seria a reação deles?


 Miguel Macedo

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