quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Já é possível mudar o mundo?


 Fomos educados que a nossa vida é possível, porque existimos.

É possível porque nascemos, estudamos, temos uma família e amigos e vivemos num mundo real e civilizado, ganhamos e gastamos dinheiro em coisas reais, para viver ou para sobreviver. Tudo isto é possível porque vemos e sentimos. Mas será que o “possível” nos chega?

Muitos de nós diríamos que sim: temos tudo o que queremos. Estamos confortáveis nos sofás que compramos no IKEA, com a TV que levamos da MediaMarkt ou com os pijamas fofinhos que a Zara tinha em promoção. 

Aceitamos sem questionar o que temos, o que nos dão, o que herdamos, o que conquistamos ao longo dos muitos anos desde a velha escola primária, naquela altura em que a madrinha nos deu aquele ursinho carinhoso que nunca mais perdemos de vista. Aquele ursinho, lá no nosso quarto, dá-nos a segurança de que tudo está bem, mesmo com todas as crises e guerras deste mundo, o ursinho sobrevive a todas sempre com os mesmos olhos de ursinho feliz com o País que tem, com a segurança de que nada lhe poderá acontecer: tudo está no sítio em que deveria estar, somos felizes. 

Dão-nos, nós recebemos e guardamos. Check.

Mas a verdade é que todos temos medo que isto mude, o receio de que alguma variável da nossa vida confortável se altere para algo que não queremos, que não desejamos e que não estava nos planos. 

No entanto, a vida não está nunca nos planos, nós não acordamos de manhã, abrimos e agenda e escrevemos: hoje, às 10h45, vou viver. Temos essa garantia de que as 10h45 de hoje vão ser iguais às de ontem, por isso não escrevemos nem sequer pensamos nisso. 

Vemos os nossos familiares a perder o emprego, os nossos filhos a regressar a casa porque não conseguem pagar a renda das suas casas, vemos no telejornal como a fome em África ainda existe, apercebemo-nos de que uma possível 3.ª Grande Guerra Mundial poderá estar a rebentar entre a Rússia e a Ucrânia e, vezes sem conta, vemos e mostramos aos nossos amigos os vídeos do Facebook que mostram como o Estado Islâmico decapita e comete atentados contra cidadãos e cidades. Outros cidadãos. Outras cidades. Mas não contra nós. E, apesar de vermos tudo isto muito superficialmente, dá-nos um medo terrível de morrer, de perder, de deixar de existir, dá-nos medo de “deixar de ser possível”.

Por isso, damos um passo atrás e fingimos que não sabemos que isto acontece: fingimos não saber que existem pessoas que morrem por injustiças, por guerras, por fome. Queremos viver os nossos 80 anos até ao fim, e mesmo que sejam apenas 50 anos, queremos vivê-los bem. Porque temos medo da dor, da perda, do sangue. Temos medo de perder o ursinho que nos deram para sempre.
Mas isto é uma escolha de alguns: recuar é uma escolha.

Há outros que escolhem lutar contra as injustiças, que ensinam os seus filhos a ser mais e melhor. 

Existem pessoas que saem do seu País e vão para o Quénia construir e ajudar nas escolas, como a Diana Vasconcelos, outras vão para a Amazónia ajudar na luta ambiental. 

Temos amigos que foram para o campo de refugiados no Afeganistão acolher aqueles que foram obrigados a sair de suas casas sem nunca saber quando voltar. 

Acima de tudo, existem aqueles que são presidentes, comissários ou representantes de países importantes, que vêm as decapitações que acontecem lá longe e que não toleram estas violações dos Direitos Humanos. 

Porque é impossível aceitar o mundo como ele se está a tornar, eles tomam medidas contra os poderosos nas suas casas de mármore e ajudam os que estão lá a sofrer, sem oportunidades de viver. 

São estas pessoas que fazem a diferença, as que escolhem tornar o nosso mundo melhor, porque fechar os olhos é fácil e confortável, mas isso não faz nada, a falta de acção é isso mesmo: nada, zero, vazio, é desculpar uma ameaça. 

Mas, optar por ajudar, é não deixar de existir. Optar por mudar é mostrar que existimos, somos reais, e fazemos a diferença. 

É possível fazermos a mudança, sim custa-nos imenso, vai ser necessário criarmos recursos que ainda não temos, teremos que arregaçar as mangas e iniciar algo que ainda não fizemos antes. 

Mas é possível mudar o mundo.


Nós sabemos que é possível existir pois somos a prova disso. Estamos num País seguro, acordamos e adormecemos. Mas, no final do dia, noutros locais remotos do mundo, eles acordam e pensam: hoje, às 10h45, ainda estou vivo.

Diana Carvalho


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