Por isso achei interessante refletir sobre esta questão. Pode o
protocolo ter emoções?
Será que a aplicação das regras e de costumes protocolares
em determinados eventos, não retiram obrigatoriamente a esses mesmos eventos,
alguma da emoção que por certo serão inevitáveis nesses mesmo momentos, mas em
que o protocolo obriga em grande parte aos principais atores resguardarem as
suas próprias emoções.
Se pensarmos num conjunto de eventos, que facilmente nos vêm
à cabeça, por certo que poderemos encontrar facilmente vários exemplos que nos
responsam positivamente mas também negativamente à pergunta formulada.
O protocolo, por definição consiste na aplicação de regras e
costumes que definem os momentos de um determinado momento e qual o lugar de
cada um nesses eventos.
Por aqui, temos uma ideia de um protocolo, inevitavelmente
necessário, mas aparente frio e rígido à partida. A ideia correta da aplicação
do protocolo com bom senso e com a flexibilidade necessária em cada um dos
momentos, abre um pouco o a janela da rigidez protocolar, para um olhar um
pouco mais “ humano”.
Ora se a rigidez, o recurso a leis e costumes é fundamental
para o sucesso da sua aplicação, em muitos eventos, são os próprios atores ou
participantes, que com mais ou menos destaque, acabam por inevitavelmente
deixar cair as suas máscaras protocolares, para revelarem os seus sentimentos e
emoções em determinados momentos. E aqui, ao contrário de todo o trabalho de
definição protocolar das cerimónias, as emoções não são preparadas por
antecipação, mas sim momentos resultantes do sentimento que o próprio momento protocolar
induz.
Os casamentos e os funerais, são um exemplo disto mesmo.
Referindo-me apenas a eventos deste género que pelos seus atores, são evento
altamente mediáticos, são vários os exemplos em que toda a preparação
meticulosa das cerimónias, acaba por ser muitas vezes abalroada pela
demonstração de emoções, que não alterando o curso do alinhamento previsto,
ficam marcadas nas nossas memórias por muito tempo.
Quem não se lembra da continência feita pelo filho de JF
Kennedy, John JR, à passagem do caixão deste. A emoção geral e sentida por
milhares de pessoas e por intervenientes principais no funeral de Diana,
nomeadamente no momento em que Elton Jonh interpretou a música adaptada ao
momento, England´s Rose. A entrega da Taça de Campeão do Mundo, no último
Mundial de futebol, em que os atores principais, A presidente do Brasil e o
Presidente da FIFA claramente afetados pelas criticas e pelo receio de reações
negativas de quem assistira ao jogo, acabaram por passar a Taça dentre eles de
forma vertiginosa, como se própria queimasse nas mãos. Os emotivos momentos do
entoar de hinos nacionais, nomeadamente em eventos desportivos e como acontece
sempre nos Estados Unidos da América.
Estes e outros que poderiam servir de exemplo, são
demonstrativos momentos, de como em ventos com fortes níveis de preparação
protocolar, as emoções acabam por surgir e marcar o evento, acabando-se, apesar
que de forma errada, se ouvir muitas vezes a imprensa referir, que o protocolo
foi quebrado, porque este sorriu demais ou o outro chorou de mais.
O protocolo não é
quebrado por emoções. As emoções sãos naturais ao ser humano e por isso
naturais mesmo quando o protocolo regre cerimónias e eventos e sem dúvida que
na minha opinião e aproveitando o último exemplo que vou deixar, que eventos
sem emoções, não sãos bons eventos.
Por isso, sempre que num evento, por mais
cerimonial que seja, se detetam emoções isso significa que se conseguiu mexer
com os intervenientes dos mesmos, sejam rainhas ou reis.
Talvez pela sua origem argentina, quando a agora Rainha da
Holanda, Maxima Zorreguieta, se casou com o Príncipe herdeiro, ao ouvir os
acordes e a interpretação de um dos mais tradicionais tangos argentinos de Piazzolla,
se emocionou de uma forma única. E
porquê?
Porque o protocolo, impedira os seus pais de estarem presentes na
cerimónia, por ligações ao regime ditatorial argentino do General Videla dos
anos 70, e foi a música, foi o Adiós Nonino, que trouxe a família de Máxima ao
casamento, sendo assim contornado o protocolo… com muita emoção.
Miguel Macedo
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