A Essência do Vinho é um dos maiores eventos vínicos
nacionais, senão o mais importante e mediático de todos.
Durante 4 dias,
consegue reunir milhares de apreciadores de vinho, e de diversas placas de
consumo: desde produtores, consumidores, jornalistas vínicos, críticos e
profissionais do vinho.
A maioria destes visitantes são nacionais, mas no
entanto uma fatia bastante considerável é já internacional e desloca-se propositadamente
para este evento.
Para não falar ainda, nos últimos anos, da componente
gastronómica que já não se consegue dissociar da área vínica.
Um evento
localizado no belíssimo edifício do Palácio da Bolsa, para além de toda a
graciosidade que as salas interiores nos dão, ainda conferem uma vista
panorâmica sobre a sala inferior, essa repleta de mesas com produtores a “dar à
prova” os seus vinhos, na tentativa de fecharem negócios proveitosos para o ano
seguinte.
Declaro-me como uma fã incondicional deste evento, no qual conheci algumas
das personalidades vínicas que sempre acompanharam a minha incursão
profissional nesta área. São quatro dias de provas, intenso trabalho e muitas
conversas, muita aprendizagem e, claro, para muitos, muita diversão.
Muito se
poderia escrever sobre a arquitectura, o evento, as iniciativas, e toda a
envolvência que consegue afinar na cidade do Porto durante estes quatro dias,
mas irei falar de uma outra perspectiva: a Essência do Vinho “já não é” apenas
aqueles 4 dias.
Tudo começa muito antes, na comunicação deste evento.
Confesso que não vejo uma comunicação assertiva, ao nível do que este evento
poderia ser.
Temos aqui diversos tipos de comunicação paralela e
interceptada, sendo que a primeira é a comunicação entre Essência do Vinho e
consumidor do evento, o visitante.
A praticamente uma semana antes do início do
evento, quase nenhuma informação havia sobre o mesmo, a não ser alguns
apontamentos no site.
O programa ainda não havia sido divulgado, nem os
expositores, nem tampouco as actividades paralelas.
As social media inerentes à
organização também não tinham nenhuma informação concreta e válida, a ponto de
dar efectivamente, razões e mais-valias ao visitante para adquirir bilhete para
este ano.
Ao fazermos uma breve comparação com outros eventos vínicos
semelhantes a nível internacional, vemos que a organização da Essência do Vinho
está a 20% daquilo que poderia estar a nível de comunicação eficaz e ao patamar
de “melhor evento vínico nacional”.
Mas esta lacuna de comunicação que eu
considero uma falha, pode ser aos olhos de muitos apenas mais um pormenor, pois
o número dos visitantes continua a aumentar de ano para ano, são milhares os
que continuam a visitar o evento.
Outro tipo de comunicação que é feita neste tipo de evento é
a que existe entre o expositor e o consumidor final, que neste caso é entre o
produtor e o cliente que compra vinho na garrafeira e leva para casa. Aqui as
falhas são muitas e gravíssimas. Um expositor faz investimento monetário e de
recursos humanos para marcar presença neste evento, mas a verdade é que ainda
não sabe como tirar os melhores benefícios disso.
Apesar de estar na área dos vinhos há poucos anos,
considero-me bastante activa e atenta às campanhas que se vão fazendo nesta
área e posso dizer, com toda a certeza, que mesmo estando ligada a bases de
dados vínicas, ter subscrito a maioria das newsletters dos produtores, ou ter o
meu feed sempre no “on” para as redes sociais, jornais, revistas… pouquíssimos
foram os produtores que comunicaram e incentivaram a presença do seu consumidor
no evento. Dizer que vão lá estar, convidar para os visitar, tudo isto faz
parte.
Mas ainda assim, a comunicação poderá ser ainda mais profunda. O
engajamento entre produtor e consumidor pode ser muito maior.
Tudo começa muito
antes da célebre quinta-feira profissional do evento: muito antes disso, é
necessário justificar o investimento monetário que se faz neste evento.
A
comunicação pré-evento, de acordo com o gráfico é tão ou mais importante do que
a comunicação durante o evento. Só desta forma será possível manter uma
comunicação eficaz com o mesmo consumidor depois do evento terminar.
Com isto não quero dizer que os produtores
não sabem comunicar com os seus clientes: estou a afirmar que não o estão a
fazer.
Não estão a comunicar, não estão a valorizar e não conseguem
criar valor ao terem milhares de pessoas a provar os seus vinhos, durante 4
dias.
Quanto vale um visitante da Essência do Vinho para cada produtor?
Quanto
vale cada minuto na mesa de provas?
No final do evento, quanto vale o contacto
que trago na mão?
O que vou fazer, como vou fazer para valorizar este recurso?
Porque
já não podemos ir para um evento a pensar “que temos que lá estar, o retorno
vem depois”.
Hoje em dia, com a velocidade a que vivemos o ROI começa muito
antes do evento começar.
Muito poderia ser falado sobre a comunicação positiva e
activa que poderia ser feita por todos, para que o melhor evento vínico
nacional pudesse também ser uma referência de boas práticas comunicacionais a
nível internacional, mas nunca o fazemos, porque nos habituamos a fazer sempre
igual: muitos já fazem diferente, mas são poucos.
Deixo este artigo como forma de alerta para os expositores,
e um apreço à organização da Essência do Vinho por mais um ano nos dar a
oportunidade de comunicar com o mercado.
No entanto, não quero terminar sem
deixar uma palavra de apreço específica a Nuno Guedes Vaz Pires, Director
Executivo da Wine que, de forma directa ou indirecta, consegue comunicar este
evento com grande profundidade e panorâmica.
Diana Carvalho
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